quarta-feira, 21 de abril de 2010

AS MINHAS "VÁRIAS" NAMORADAS

Estranho como lembramos de determinadas coisas que aconteceram há muito tempo, que aparentemente já deveriam ter caído no abismo do esquecimento e que inesperadamente reaparecem ricas na nossa mente.

Há muitos anos eu tive uma namorada que gostava muito de ir ao salão de beleza e passar longas horas fazendo tratamentos os mais diversos, de cabelo, de pele, unhas, massagens, etc.
E gastava muito dinheiro com isso, diga-se de passagem...

Certo dia, ao deixá-la em casa à noite, ela me disse:
"- Bruno, amanhã você terá uma namorada totalmente diferente. Tenho certeza que você nem irá me reconhecer!"

E como um homem que acredita em tudo o que a mulher fala, eu concordei, sorri e nos despedimos.

No dia seguinte marcamos para assistir um filme no cinema e estabelecemos que nos encontraríamos na praça de alimentação do Shopping Iguatemi às 18:00hs.
Cheguei às 17:45hs para esperá-la e surpreendi-me pelo fato dela não chegar no horário.

Uma das suas características mais admiráveis era a pontualidade praticamente britânica, o que me fazia ter grande disciplina para chegar sempre antes do horário combinado.
Dessa forma, ao dar 18:30hs, preocupado, resolvi ligar para o celular dela, temendo que algo tivesse acontecido ao longo do caminho.

Nós tivemos o seguinte diálogo:

"- Menina, onde você está?!"
"- Eu estou aqui."
"- Aqui onde? Na praça de alimentação onde combinamos?"
"- Exatamente. Já cheguei faz meia hora."
"- Como assim? Eu não estou te vendo. Em que local você se encontra?"
"- Estou aqui, de costas, há apenas alguns metros de você."

E eu, inquieto, levantei-me da cadeira e circunvagava o olhar ansioso pelo recinto, mas não a via.

Então conclui, dando um toque de humor:
"- Não é possível. Você está brincando comigo, não é?"
"- Claro que não. Que namorado é esse que não reconhece a própria namorada no meio da multidão?"

De repente, para a minha surpresa, uma moça bonita de cabelos longos e sedosos se aproxima de mim e vira-se subitamente.
Eu quase caí da cadeira: era ela!
A minha namorada que tinha os cabelos na altura dos ombros, estava com eles agora no meio das costas!

Eu estava maravilhado!
Há algumas horas atrás eu tinha deixado uma namorada em casa e agora eu estava saindo com uma outra namorada!
Que coisa curiosa!
Eu tinha duas namoradas e nem sabia disso!

E essa era naturalmente uma poligamia ética.
Afinal, não era culpa minha.
Era a minha própria namorada que, através de uma metamorfose diária, me fazia ter várias namoradas em uma mesma semana.

Assim, na segunda eu tinha uma namorada de cabelos curtos, na terça uma de cabelos longos, na quarta uma morena, na quinta uma loira, na sexta uma de cabelos cacheados, no sábado uma de cabelos lisos, no domingo uma com franja e assim sucessivamente.

Que beleza!
Eu estava em uma posição que muitos homens julgam privilegiada (erroneamente)!
Eu tinha diversas namoradas e a minha namorada verdadeira nem se importava com isso!

Então, como um namorado gentil, eu elogiei o seu cabelo novo, conversamos rapidamente e saí de mãos dadas com ela pelo shopping, orgulhoso da minha "nova" companheira.

Todavia, e para a minha amarga infelicidade, ao final do filme lembrei-me de algo que um colega tinha me dito, em certa oportunidade, a respeito da possível origem desses cabelos que são vendidos e que as pessoas compram para colocar nas suas próprias cabeças.

E assustado com a lembrança súbita, perguntei a ela, receoso:
"- É verdade o que dizem por aí que esses cabelos que são comprados em salões de beleza são de pessoas que já morreram e que a família corta pra vender?"

Não obtive resposta.
Apenas um olhar fulminante e uma afirmação, tácita:
"- Me leve para casa. Agora!"

Bruno Gomes.
21/04/2009

segunda-feira, 12 de abril de 2010

UMA EXPERIÊNCIA PROTESTANTE

Nada melhor do que passar por uma experiência nova para se abrir mentalmente a reflexões as mais diversas. Afinal, na boa filosofia, a partir do momento em que julgamos saber todas as coisas, fechamo-nos automaticamente ao aprendizado de conhecimentos novos e enriquecedores, enjaulados egocentricamente na pretensão e pseudo-sabedoria de possuir a verdade absoluta.

E, como espírita, sempre me intrigaram os cultos evangélicos das igrejas protestantes modernas. Sendo atraído pela história das religiões desde muito novo, em leituras e estudos variados, fascinava-me a postura nobre e corajosa de Lutero ao cravar na Igreja do Castelo de Wittenberg as suas 95 teses no ano de 1517, dando início assim, na Alemanha, a Reforma Protestante, rompendo com os exageros e desmandos clericais da Igreja Romana da sua época, baseados na venda de indulgências, entre outros.

Entretanto, não obstante a curiosidade saudável e o fato de possuir um número significativo de amigos evangélicos que comigo convivem e travam contato diário, seja na faculdade ou no trabalho, eu nunca havia tido a oportunidade de verificar in loco um dos seus cultos e cerimoniais. E hoje, no dia 11 de abril de 2010, eu tive essa inédita e feliz experiência.

A intermediária para o acontecimento foi uma boa amiga de Brasília, a Isabelle, que, estando pela primeira vez na cidade de Salvador junto ao coral de jovens do qual faz parte, veio para a posse do novo pastor da Igreja Batista da Pituba, localizada na Alameda Flamboyants no Caminho das Árvores. E com a gentileza peculiar que lhe é característica, a mesma me estendeu um convite para, além de nos encontrarmos pessoalmente pela primeira vez, participar das cerimônias pertinentes a posse do referido pastor.

Assim sendo, não sabendo ao certo o que aconteceria, cheguei antes do horário aprazado para ambientar-me adequadamente ao local, sentei-me respeitosamente em uma das cadeiras do arrumado e bem cuidado recinto e esperei. E após encontrar a Isabelle e nos cumprimentarmos, deu-se início as atividades matinais do domingo. Como seria de se esperar, inúmeras coisas chamaram-me a atenção e sobre algumas delas tentarei tecer alguns comentários breves e respeitosos.

A primeira delas, e que me surpreendeu profundamente por ser algo que, confesso, não percebo amiudemente na nossa esfera de ação, é a preocupação exteriorizada por todos na Igreja em bem receber aqueles que estão visitando-a pela primeira vez. Pessoas educadas, gentis e sorridentes estão em todos os lugares, sempre bem dispostas a darem informações e a equacionarem as dúvidas dos neófitos, os fazendo se sentir confortáveis e a vontade no novo ambiente. E posso realmente dizer que vivenciei esse aspecto na pele, pois o momento mais curioso, e que bem serve para exemplificar esse fato, foi quando, durante o culto, o simpático e jovem pastor recém-empossado, Matheus Guerra, se dirigiu ao auditório dizendo: “Aqueles que estão aqui pela primeira vez, por favor, se levantem.”

Naturalmente, eu fui tomado por um imediato conflito e pensei rapidamente: “Creio que não deverei me levantar. Caso eles me perguntem algo ou peçam para que me dirija para frente do salão, será certamente uma situação constrangedora!” E congelei-me na cadeira por alguns segundos, sem ousar me movimentar. Mas, imediatamente, veio a minha mente a figura da Isabelle e o pensamento de que ficaria chato para ela ver o amigo, carinhosamente convidado por ela, não levantar-se.

Então, respirei fundo e, estimulado por algumas outras poucas pessoas que também se ergueram, levantei-me da cadeira. Logo após isso, o referido pastor deu-nos as boas-vindas, dizendo da alegria em nos receber e abrindo as portas da Igreja para que voltássemos no momento que julgássemos oportuno. Mas quando eu achava que já estava acabado, algo novo e ainda mais inusitado aconteceu. Após dirigir-nos a palavra, ele solicitou que os freqüentadores costumeiros da Igreja cumprimentassem-nos. E, de repente, eu estava rodeado de pessoas solícitas e carismáticas, que apertavam-me as mãos e abraçavam-me de forma calorosa.

Algo a se apontar igualmente, é a preocupação da Igreja em bem capacitar aqueles que são responsáveis pelas suas atividades principais, tais como os pastores, ministros, etc. Todos os responsáveis pela palavra neste dia específico da minha visita possuíam um profundo conhecimento das letras bíblicas, o que os facultava falar com grande conhecimento de causa e coerência. Ao lado desse atributo, eles eram exímios oradores, eloqüentes e hábeis na arte do verbo, os permitindo pregar com grande desenvoltura, correção e segurança.

Ao lado desses, um outro acontecimento que levou-me a reflexão foi o fato de como as religiões descendentes do Cristianismo Primitivo carregam entre si, como é óbvio, grande semelhança em seu bojo doutrinário, apesar das distinções de interpretação compreensíveis e de usarem denominações distintas para nomear-se. Conteúdos positivos como a fé inabalável em Deus, a excelência da mensagem de Jesus como o mais perfeito código ético-moral jamais criado para a felicidade do homem, fluíam de todos os lugares. E lá eu estava e ouvia nos cânticos entoados em uníssono pelos presentes, nas letras das músicas e no discurso dos pastores e ministros, teses e ensinamentos que, apesar de não ser protestante, não me eram novos e que não se diferenciavam, na sua essência cristã principal, daqueles aos quais eu estava acostumado e me dedicava a meditação e estudos cuidadosos no Centro Espírita.

Afastei-me mentalmente do culto e da movimentação do recinto por um momento e, envolvido em profundos cismares, tentando concatenar as idéias, questionei-me: Será que as pequenas diferenças de interpretações devem causar esse abismo profundo que muitas vezes existe entre pessoas de diferentes denominações religiosas, quando em verdade, e segundo Jesus, toda a Lei e os profetas estão contidos nesses 2 mandamentos: “Amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a si mesmo”? (Mateus, 22:38)

E naquele momento de surpresa, enquanto ouvia dos ungidos discursos de veneração e de certeza da figura de Jesus como sendo a influência maior das nossas vidas, igualmente não pude furtar-me a recordação da pergunta de Allan Kardec aos Espíritos em O Livro dos Espíritos: 625. Qual é o tipo mais perfeito que Deus ofereceu ao homem para lhe servir de guia e modelo? Ao que eles responderam com surpreendente objetividade: “- Vede Jesus”.

E os mesmos acrescentariam em O Evangelho Segundo o Espiritismo: “Espíritas: amai-vos, eis o primeiro ensinamento; instruí-vos, eis o segundo. Todas as verdades se encontram no Cristianismo; os erros que nele se enraizaram são de origem humana. (...) Irmãos! Nada perece! Jesus Cristo é o vencedor do mal; sede os vencedores da impiedade!”

Despedi-me da amiga ao final. E retornando para casa, questionava-me se Deus, em Sua infinita sabedoria, permitia que a doutrina do Seu Filho tivesse sido distribuída em diversas denominações doutrinárias cristãs, não para criar cisões ortodoxas dolorosas e desnecessárias, mas para que ela pudesse encaixar-se e ser assimilada por todos os tipos de níveis da consciência humana; para que ninguém, no Seu imenso rebanho, ficasse destituído da mensagem evangélica libertadora de vidas, sob a justificativa de interpretá-la de maneira diferente. Tal como um hábil professor de matemática sabe moldar e adaptar as informações passadas aos diferentes níveis de idade dos seus alunos, com o objetivo de ser melhor compreendido por cada um deles através dos seus cálculos, apesar da matemática continuar a mesma em seu conteúdo principal.

E ao retirar-me do recinto, um senhor jovial acercou-se e me perguntou: “Você já é evangélico?” Eu sorri e o respondi que era espírita, explicando-o que havia visitado a sua igreja a convite de uma amiga querida. Ao que ele redargüiu curioso: “E o Espiritismo é uma religião?” Com naturalidade, eu respondi: “A minha resposta deveria ser mais complexa do que essa, mas, simplificando, sim, é uma religião embasada nos princípios evangélicos de Jesus.” Ele aquiesceu, respeitoso e simpático, e confabulamos amistosamente, trocando mais algumas poucas palavras em conversa animada.

Ao final, apesar de continuar tão espírita quanto no momento em que adentrei na aconchegante e bela Igreja Batista da Pituba, aprouve a Deus mostrar-me algo novo nesse dia. Ao verificar o arrebatamento da fé e o fervor, o amor e o devotamento a Jesus naquele ambiente até então desconhecido por mim, veio-me a certeza de que Deus, na Sua onipresença, derrama a Sua influência divina em todos os lugares onde reinam a sinceridade da fé, a boa-vontade dos aprendizes do Evangelho e o desejo verdadeiro de tornar-se uma pessoa melhor, em amando a Ele sobre todas as coisas e o próximo como a si mesmo, pois, independente e malgrado as diferentes interpretações, disso “depende toda a Lei e os profetas.” (Mateus, 22:38)

Bruno Gomes.
11/04/2010

quinta-feira, 8 de abril de 2010

BEETHOVEN II



As notas e melodias abundantes, antes ricas e vívidas
Desaparecem dolorosamente ante a inesperada surdez inditosa
Mas agora as capto do cosmos em espírito, vibrantes, vivas
Sutis e silenciosas pela mente em inspiração majestosa

E surdo, em Viena, escondo-me da sociedade, do mundo
Erguendo-se da minha solidão composições ainda mais profundas
Trazendo beleza e luminosidade em meio a preconceito imundo
Partindo saudosas sob corais geniais para a imortalidade fecunda

Bruno Gomes.
07/04/2010

terça-feira, 6 de abril de 2010

HILDEGARD VON BINGEN



Santa Hildegarda, escritos e visões sob inspiração divina
Monja beneditina, luz em antigo mosteiro alemão
Estrela na escuridão medieval, ponte com o Além, peregrina
Ecoam seus cantos gregorianos nos velhos conventos em aluvião

Religiosa, médium, poetisa, escritora, compositora
As legendárias línguas de fogo jazem sobre a sua fronte
Espanto e admiração da alta Igreja Romana inquiridora
Pelos conhecimentos e milagres que lhe jorram de superior fonte

Bruno Gomes.
06/04/2010

sábado, 3 de abril de 2010

HÄNDEL



O Seu inesquecível messianato é musicado em sinfonia
Cantadas são Suas amáveis palavras daqueles doces dias
Das páginas evangélicas para as partituras em ordenada cantoria
Das praias de Cafarnaum para o tablado do palco em O Messias

A sonoridade suave do Tiberíades, o piscoso mar da Galiléia
E a musicalidade divina e eterna do Sermão da Montanha
Captadas em profundidade pela orquestra aprumada e milimétrica
Da humilde manjedoura ao doloroso Calvário em beleza tamanha!

Bruno Gomes.
31/03/2010

MOZART



Eloqüente e profunda Missa solene aos mortos
Àqueles em direção ao Hades, pelo Aqueronte, à terra de ninguém
No barco de Caronte, para o Tártaro, com o crocitar dos corvos
Ou aos Campos Elísios com o canto dos anjos em Réquiem

Tristeza e júbilo vindo calmos de instrumentos e de vozes
Ode de luto e esperança às saudosas almas dos ancestrais
Hino pela imortalidade do ser, envolvente como em doce hipnose
Entoado pelos que vivem, em luminosas partituras universais

Bruno Gomes
25/03/2010

BEETHOVEN



Ressoa tremendamente como os passos de um gigante
Poderosa, move terras e montanhas entre êxtase e agonia
Os céus se abrem e os deuses contemplam-te por instante
Silenciam, ajoelham-se e abençoam-te, ó 9ª Sinfonia

Torre imensa de luz divina ergue-se na direção das estrelas
Santo Graal musical, Alfa e Ômega da arte
Oceano arrebatador de sons e vozes, tocantes, certeiras
Da surdez agiganta-te em perfeição, mágica e melodias escarlates

Bruno Gomes.
12/03/2010

CHOPIN



Melodias espirituais flutuam no ar
Dedos ágeis em tons suaves a hipnotizar
Harmonias sensíveis pacificadoras das paixões
A calmaria divina materializa-se em doces canções

Deus desce à Terra em forma de música para encantar
Toma de suas delicadas mãos para compor, para tocar
Para falar aos corações terrenos em notas angelicais
O piano vive em suaves Noturnos sob sentimentos celestiais

Bruno Gomes
25/02/2010