sábado, 6 de fevereiro de 2010

O DESERTO E A BORBOLETA



O deserto anelado dos iniciados e santos
O silêncio sobre o ondulado mar de areias infinitas
Solidão que faz ouvir dos ventos os ecos e cantos
Que das dunas alvas dança e se agita

O vozerio do mundo inquieto emudece-se por instantes
Que desdobra-se paulatinamente por longos dias e noites
Visão contínua do solo branco, maçante
Cujos claros grãos beijam-me em doce açoite

Perco-me e flutuo leve em suas crestadas areias
Mergulho nas ignotas profundezas do seu ser
Sob o calor das dunas, levita e passeia
Em luz, a alvorada, o anoitecer

Uma borboleta, então, me aparece neste ambiente
Suas asas contrastam com o território de cor homogênea
Seu colorido não secará nas areias de calor ardente
Nem se apagará a sua figura luminosa e argêntea

Vai-te daqui, borboleta
Meu jardim seca árido, sem néctar para te alimentar
Deixa-me apenas a lembrança do colorido das suas asas
E parte ao vento sul que guiar-te-á para o mar

Mas eu sei quão suave são seus braços
E como anelaria por sobre os Dela adormecer
Mas trovões e tempestades, ventanias e brados
Poderiam advir desse efêmero amanhecer

Mas para quê esse semblante soturno?
Vim trazer-te água fresca para o teu jardim florescer
Meu colorido te servirá de constante insumo
E de sede você jamais irá perecer

Bruno Gomes.
04/02/2010

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